Como deve um Oftalmologista comunicar uma má notícia?
A comunicação é definida como o ato de produzir e receber mensagens por meio da linguagem e, também, compreender e partilhar mensagens enviadas e recebidas. O modo como se dá o seu intercâmbio exerce influência no comportamento das pessoas envolvidas.
Na área da saúde, neste caso da oftalmologia, é fundamental saber interagir com outras pessoas. Os profissionais de saúde têm como uma das bases do seu trabalho as relações humanas, sejam elas com o doente, os seus familiares ou com a equipa multidisciplinar que os acompanha.
Como informar um paciente que nem tudo está bem?
Este texto visa precisamente responder a algumas questões comuns relacionadas com esta temática. Confira em baixo as perguntas e respostas.
Quais são as principais dificuldades que sinto quando tenho de comunicar más notícias a um paciente?
Quando tenho que dar uma má notícia a um doente procuro, fundamentalmente se se tratar de um problema unilateral, realçar que o doente poderá fazer a sua vida quotidiana com uma visão unilateral e salvaguardar (no caso de se tratar de patologia que possa afetar o olho adelfo) o envolvimento do outro olho recorrendo ao tratamento adequado e ao recurso a uma proteção mais acentuada e adequada do olho que vê.
E como é que se dá uma má notícia?
Uma má notícia deve ser dada sempre que possível na presença de um familiar e deverá ser enquadrada num contexto médico ou cirúrgico apoiado por uma evidência clínica, sempre que possível, baseada em números. O doente deverá perceber que não se trata de um caso isolado e deveremos ajudar o doente e familiares a superar com a maior naturalidade a forma de resolver a sua situação.
Quais são as principais dificuldades na questão da adesão à terapia?
Relativamente a esta questão, julgo que existem 3 causas fundamentais que dificultam a adesão à terapêutica: os efeitos laterais gerais mas fundamentalmente os efeitos locais, tais como picadas, ardência ou olho vermelho; a necessidade de tratamento crónico sem existência de sintomas como acontece por exemplo no glaucoma; e a dificuldade prática de aplicação das gotas.
Porquê é que alguns doentes não seguem as terapias aconselhadas pelos médicos?
Julgo que haverá 3 razões para que tal aconteça: em primeiro lugar, por não terem compreendido corretamente o que lhes foi prescrito (muitas vezes por falta de cuidado ou tempo para explicação por parte do médico) e, em segundo lugar, por não se aperceberem da real gravidade da sua situação clínica. Uma última razão poderá estar relacionada com dificuldades económicas, tendo em conta que muitos dos medicamentos na área da oftalmologia não são comparticipados.
Qual é o papel da família no tratamento dos pacientes?
Julgo que no âmbito da oftalmologia a família é muito importante em 2 fases fundamentais da vida: na prevenção da ambliopia na criança e no seguimento adequado (oclusão e uso da prescrição de forma exemplar) e na população idosa ajudando na ministração dos colírios e contribuindo para demonstrar a importância do tratamento médico e ou cirúrgico de patologias que podem levar à cegueira, como por exemplo a retinopatia diabética, o glaucoma ou a DMI.
O que é que o médico pode fazer para facilitar o acompanhamento?
Para facilitar o acompanhamento o médico deverá ser claro ao efetuar determinada prescrição ou a dar alguma indicação cirúrgica. Por outro lado, nunca deverá terminar uma consulta sem ter a certeza de que não ficou nenhuma dúvida por esclarecer por parte do doente ou familiar.
2 histórias de casos complicados
Lembro-me de 2 episódios passados com dois doentes que foram fundamentais para orientar imediatamente para o diagnóstico de glaucoma avançado. É muito importante estar atento aos doentes, mesmo no que diz respeito a pormenores que nos possam parecer descabidos.
No primeiro tratava-se de um senhor de cerca de 60 anos que me consultou pela primeira vez há cerca de alguns meses e nunca tinha consultado um oftalmologista. Referiu que, ao longo do último ano, por três vezes, ao estacionar o carro na garagem, sem ter para tal explicação, ter batido no portão, curiosamente a estacionar duas vezes de frente e uma em marcha atrás.
Não atribuiu esses episódios à sua acuidade visual pois tinha recentemente renovado a carta de condução e até nem usava óculos (apenas necessitava de correção para ler). Tratava-se de um paciente com glaucoma (tensões oculares de 28 mmHg no olho direito e de 31 mmHg no olho esquerdo – normal entre 10 e 21 mmHg) e com campos visuais tubulares de um glaucoma muito avançado.
O outro caso foi de uma senhora de 68 anos que bateu em tudo o que lhe apareceu pelo caminho desde a entrada no consultório até se sentar para conversar comigo. Tratava-se de uma senhora a quem teria sido diagnosticado glaucoma pelos 55 anos, algo que ela desvalorizou pois nunca viu mal, segundo referiu. Só nos últimos 6 meses passou a ter “alguma” dificuldade em se movimentar nos ambientes estranhos – tratava-se igualmente de um glaucoma praticamente terminal com campo visual tubular.
Não podemos pactuar com situações como estas e devemos, por um lado, alertar os doentes com glaucoma para a importância do tratamento e avaliações periódicas e, igualmente, passar a mensagem de que uma acuidade visual, aparentemente normal, não é sinónimo de ausência de patologia ocular grave – importância das consultas periódicas de oftalmologia.
LEIA AQUI A REPORTAGEM COMPLETA DA REVISTA OFTALPRO SOBRE ESTE ASSUNTO
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