Dignus – Envelhecimento: a importância da prevenção contra o Olho Seco

Venho partilhar consigo a publicação que saiu no site e revista Business Dignus este mês de Novembro 2021.

A idade geralmente traz consigo uma variedade de problemas de saúde, incluindo alterações na visão que podem colocar em causa a qualidade de vida no dia-a-dia. Uma situação comummente observada e que aumenta com a idade, fundamentalmente a partir dos 50 anos, é o olho seco.

Dor, sensação de areia nos olhos, vermelhidão, visão turva, hipersensibilidade à luz e sensação de corpo estranho no olho são algumas das queixas mais comuns que resultam desta condição. Mas qual a razão para tal acontecer?

A anatomia do olho é composta por um conjunto de camadas estruturadas e complexas! Num olho saudável, a camada de muco fica imediatamente sobre a córnea e a conjuntiva, fornecendo nutrientes e antigénios indispensáveis para o seu bom funcionamento. O filme lacrimal tem a função de proteger o olho de germes, microrganismos e poluentes. Como resultado da idade avançada, ocorrem mudanças na sua composição, altura em que a produção e qualidade das lágrimas reduz significativamente criando instabilidade no filme lacrimal e esta condição natural tem como resultado a inflamação e danos na superfície do olho, podendo assim causar a chamada Síndrome do Olho Seco.

O que é a Síndrome do Olho Seco?

Trata-se de uma condição comum que atinge mais de um milhão de portugueses e que ocorre quando as lágrimas não são capazes de fornecer a lubrificação adequada para manter os olhos saudáveis. As lágrimas podem ser inadequadas e instáveis por diversos motivos. Por exemplo, olhos secos podem ocorrer se não produzirem lágrimas suficientes ou de qualidade. Além disso, a presença de condições crónicas de saúde, como diabetes mellitus, reumatismo e a menopausa, podem desencadear o fenómeno descrito. Por vezes, até mesmo alguns medicamentos e problemas de tiróide podem contribuir para esta condição.

Quais os sintomas associados à Síndrome do Olho Seco?

Os sintomas, que geralmente afetam ambos os olhos, são:

  • Ardência
  • Muco viscoso no interior ou ao redor dos olhos
  • Hipersensibilidade à luz
  • Vermelhidão
  • Sensação de corpo estranho
  • Dificuldade em usar lentes de contato
  • Dificuldade para dirigir um veículo à noite
  • Visão turva ou fadiga ocular
  • Lacrimejo

Relacionar o lacrimejo ou produção excessiva de lágrimas nos olhos com o olho seco pode parecer estranho. Contudo, isto ocorre porque a secura na superfície ocular às vezes pode levar à superprodução da parte aquosa das lágrimas como mecanismo de proteção. Mas esse “reflexo” não permanece no olho por tempo suficiente para corrigir a condição de olho seco subjacente.

Além destes sintomas, os olhos secos podem causar inflamação e danos, às vezes permanentes, na superfície do olho.

Assim sendo, é de extrema importância seguir um plano de consultas de oftalmologia periódicas, por forma a evitar condições mais gravosas.

Quais são as causas mais comuns da Síndrome do Olho Seco?

  • Envelhecimento – A degeneração dos olhos à medida que estes envelhecem conduz a doenças como o olho seco. As proteínas que ajudam a compensar o filme lacrimal diminuem à medida que envelhecemos e o volume de lágrimas produzido também diminui.
  • Mudanças hormonais – As alterações hormonais ocorrem quando se toma o controlo hormonal da natalidade, durante a gravidez e durante a menopausa. Olhos secos podem ser um efeito colateral dessas alterações hormonais.
  • Doenças sistémicas, incluindo diabetes e doenças autoimunes – O Diabetes Mellitus (DM) pode causar alterações no tecido nervoso. A secreção lacrimal é interrompida quando ocorre uma lesão nervosa relacionada com a DM e os olhos ficam secos, especialmente quando os níveis de açúcar no sangue do paciente não estão sob controlo. Doenças autoimunes, como síndrome de Sjögren, Lúpus e artrite reumatóide, induzem inflamação que pode causar olho seco.
  • Medicamentos – Medicamentos incluindo anti-histamínicos, descongestionantes, antidepressivos, pílulas anticoncecionais, terapia de reposição hormonal para aliviar os sintomas da menopausa e medicamentos para ansiedade, doença de Parkinson e hipertensão foram associados a olho seco.
  • Fatores ambientais – Períodos prolongados de exposição ao ecrã da TV, portátil, desktop ou telemóvel incentivam a diminuição do pestanejo. Ambientes com vento, fumo ou ambientes secos aumentam a evaporação das lágrimas.
  • O uso da máscara – A irritação ocular associada ao uso da máscara é frequente nos dias de hoje e, mais exuberante, em pessoas com antecedentes de inflamação ocular e/ou de olho seco. Durante a utilização da máscara, o aumento do fluxo de ar em direção aos olhos durante a respiração, acelera a evaporação contínua do filme lacrimal e tem-se revelado também um fator etiológico complementar muito importante.

Como é diagnosticado o Olho Seco?

O Olho Seco pode ser diagnosticado por meio de um exame oftalmológico completo. Os testes com relevância na avaliação da quantidade e qualidade das lágrimas produzidas pelos olhos podem incluir:

  • História clínica completa para determinar os sintomas/sinais do paciente e observar quaisquer problemas gerais de saúde, medicamentos ou fatores ambientais que possam estar a contribuir para a causa do olho seco.
  • Exame externo do olho e anexos, incluindo estrutura da pálpebra e a dinâmica do piscar/pestanejar.
  • Avaliação das pálpebras e córnea usando uma luz intensa e ampliação (biomicroscópio).
  • Medição da quantidade e qualidade das lágrimas para identificar qualquer anormalidade. Podem ser usados exames não invasivos ou corantes para se observar melhor o fluxo lacrimal e destacar quaisquer alterações na superfície externa do olho, causadas por lágrimas insuficientes ou de qualidade deficiente. A medição da osmolaridade é também um teste importante.

Com as informações obtidas, através do recurso a diferentes métodos de diagnóstico, o médico oftalmologista consegue facilmente determinar se o paciente tem olho seco e sugerir o melhor tratamento.

Quais os tratamentos existentes?

Os tratamentos para o olho seco têm como objetivo restaurar ou manter a quantidade normal de lágrimas minimizando a secura e o desconforto, mantendo essencialmente a saúde ocular. A utilização de lágrimas artificiais sem conservantes são a abordagem principal no tratamento da Síndrome do Olho Seco, têm como objetivo conservar ou mesmo aumentar a produção de lágrimas e tratar a inflamação das pálpebras ou da superfície do olho.

  • Adicionando lágrimas – Geralmente os casos ligeiros de olho seco podem ser tratados com lágrimas artificiais usadas no seu dia-a-dia como complemento à produção natural de lágrimas. Recomenda-se a utilização de lágrimas sem conservantes uma vez que contêm menos aditivos, prevenindo a irritação ocular. Lágrimas com antioxidantes são também uma opção viável nestas situações.
  • Preservando as lágrimas – Manter as lágrimas naturais nos olhos por mais tempo pode reduzir os sintomas de olho seco. Isso pode ser feito bloqueando os canalículos/canais lacrimais pelos quais as lágrimas normalmente drenam. Os canalículos lacrimais podem ser bloqueados com pequenos tampões de silicone ou gel que podem ser removidos quando necessário. É possível também através de um procedimento cirúrgico fechar permanentemente os canalículos lacrimais. Em ambos os casos, o objetivo é manter as lágrimas disponíveis no olho por mais tempo e reduzir os problemas relacionados com a secura ocular.
  • Aumentando a produção de lágrimas – Um médico oftalmologista pode prescrever colírios ou suplementos que aumentam a produção da lágrima. Tomar um suplemento nutricional de ácido gordo ómega-3 pode ser uma opção.
  • Tratamento da inflamação da pálpebra e da superfície ocular – Colírios ou pomadas com anti-inflamatórios, compressas quentes e massagem nas pálpebras, ou limpando as pálpebras com toalhitas oculares, procedimentos que ajudam a diminuir a inflamação ao redor da superfície dos olhos.
  • Luz intensa pulsada (IPL) – A luz intensa pulsada (IPL) é utilizada há vários anos para tratar a rosácea cutânea. Rosácea na pele e na pálpebra frequentemente ocorrem juntas. A rosácea ocular é caracterizada pela presença de vasos sanguíneos dilatados ao longo da margem dos cílios em pacientes que sofrem de blefarite e pode contribuir para o agravamento dos sintomas de olho seco. No tratamento IPL, um dispositivo portátil emite luz brilhante sobre a pele e esta luz é filtrada para que apenas alguns comprimentos de onda possam ser absorvidos pelas estruturas palpebrais. Este método de tratamento é uma solução eficaz para o olho seco moderado/grave com efeito analgésico, anti-inflamatório, neuroprotetor e antimicrobiano.
  • ENDORET – Por fim, referir o ENDORET que é uma tecnologia regenerativa que se destina fundamentalmente ao tratamento das formas mais graves de olho seco. Utiliza o plasma do próprio indivíduo de forma a obter-se um produto rico em plaquetas e fatores de crescimento. Para além do seu potencial antimicrobiano, promove a proliferação celular e acelera a remodelação tecidular, reduzindo a fibrose e a inflamação.

Como prevenir o Olho Seco?

Se sente os olhos secos ou tem algum dos sintomas referidos anteriormente, preste atenção às situações que têm maior probabilidade de causar a Síndrome do Olho Seco. Em seguida, encontre algumas formas de as evitar. Por exemplo:

  • Evite o fluxo de ar direto para os olhos – Não direcione secadores de cabelo, ar condicionado ou ventiladores para os seus olhos.
  • Adicione humidade ao ar – No inverno, um humidificador de ar pode adicionar humidade extra ao ar do seu espaço.
  • Considere a utilização de óculos de sol envolventes ou outros tipos de óculos de proteção – Protetores podem ser adicionados à parte superior e lateral dos óculos para bloquear a entrada de vento e ar seco. Pode adquirir estes protetores onde compra habitualmente os seus óculos.
  • Faça pausas durante tarefas longas de esforço visual- Se estiver a ler ou a executar outra tarefa que exija concentração visual, faça pausas periódicas. Feche os olhos por alguns minutos. Ou pisque repetidamente por alguns segundos para ajudar a espalhar as lágrimas uniformemente sobre os olhos. Existe a regra 20-20-20 habitualmente sugerida que consiste em parar a cada 20 minutos e durante 20 segundos olhar para um objeto a uma distância de 20 pés, isto é, cerca de seis metros. Esta regra ajuda a reduzir a fadiga e cansaço ocular.
  • Evite fumar – Se fuma, peça ajuda ao seu médico para planear uma estratégia para parar de fumar. Se não fuma, mantenha-se distante de pessoas que fumam. O fumo pode piorar os sintomas de olho seco.
  • Ingerir nutrientes que ajudam na prevenção do olho seco – Atualmente sabemos que a nutrição e hábitos alimentares saudáveis, são um fator fundamen­tal na biologia de todo o organismo e espe­cialmente do olho e neste caso da superfície ocular. O papel benéfico determinado por níveis de substâncias como o ómega-3 ou o efeito negativo do excesso de ómega-6 na dieta foi demonstrado. Deste modo, a ingestão de alimentos ricos em ácidos gordos ómega-3 tais como o atum (fresco, não enlatado), salmão, sardinhas, arenque, nozes e soja, pode ajudar aliviar a irritação do olho seco Por fim, também presença de an­tioxidantes e vitaminas numa dieta rica em leguminosas, vegetais e frutas ou altos níveis de polifenóis de alguns alimentos, provou ser fundamental para o bom funcionamen­to dos tecidos da superfície ocular.
  • Beber muita água: É mais provável que fique desidratado, fundamentalmente no Verão, quando está muito calor no exterior. A desidratação afeta a capacidade natural do seu corpo de produzir lágrimas. Manter-se hidratado promove a produção normal de lágrimas e previne que estes sequem.

Conclusão

O olho seco aumenta significativamente com a idade. Marcar consultas regulares, pelo menos de 2 em 2 anos, com um médico oftalmologista é crucial. Não deve nunca adiar o seu check-up oftalmológico! Nas consultas, o seu médico consegue diagnosticar doenças tais como a Síndrome do Olho Seco, que nem sempre se manifestam através de sintomas e que numa fase inicial, podem ter solução.

 

Download do Artigo

 

Refererências:

1- Baudouin C, Messmer EM, Aragona P, et al. Revisiting the vicious circle of dry eye disease: a focus on the pathophysiology of meibomian gland dysfunction. Br J Ophthalmol. 2016;100(3):300–306.

2 – Cheng S, Jiang F, Chen H, Gao H, Huang Y.  Intense Pulsed Light Therapy for Patients with Meibomian Gland Dysfunction and Ocular Demodex Infestation. Current Medical Science, 2019;39(5):800-809.

3 -Ding J, Sullivan DA. Aging and dry eye disease. Exp Gerontol. 2012;47(7):483–490. –

4 -Ezuddin N, Alawa K, Galor A. Therapeutic strategies to treat dry eye in an aging population. Drugs Aging. 2015;32(7): 505-513.

5.- Liu J, Sheha H, Tseng SC. Pathogenic role of Demodex mites in blepharitis. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2010; 10:505–510.

6.- Nichols KK, Foulks GN, Bron AJ et al., The international workshop on meibomian gland dysfunction: executive summary. Investigative Ophthalmology and Visual Science, 2011; 52(4): 1922–1929.

7 -Salgado-Borges J, Vergés C, Borges, Casaroli.Marano R, Pinazo-Dúran MD. A importância da nutrição no olho saudável e com patologia. Rev Dignus (Dossier sob Nutrição). 2020(): 18-22

8 -Salgado-Borges, Esteves, F, Coelho. Catarata em 2020..Rev Dignus (Dossier sob Doenças Oculares Relacionadas com a Idade). 2019 (3): 26-28.

9 – Stevenson W, Chauhan S, Dana R. Dry eye disease: an immune-mediated ocular surface disorder. Arch Ophthalmol. 2012;130 (1):90–100.

10 – Yokoi N, Georgiev GA. Tera-film-oriented diagnosis for dry eye. Jpn J Ophthalmol. 2019 Mar; 63(2):127-136.

11 – Vergés C, Salgado-Borges J, March de Ribot F. Prospective Evaluation of a New Intense Pulsed Light, Thermaeye Plus, in the Treatment of Dry Eye Disease Due to Meibomian Gland Dysfunction. J Optom. 2021 Apr- Jun;14(2):103-113.

12 – Vérges C, March de Ribot M., Salgado-Borges J. Ribas V. Intensed pulsed light in the treatmentof dry eye disease ans ocular rosaces. Ophth Times Eur., 2021; 17: 24.27.

 

Fonte original: https://www.dignus.pt/

dignus, dignus revista, Doença do Olho Seco, Oftalmologia, Olho Seco, Olho seco doença ocular, prevenção do Olho Seco, revista business, revista business portugal, revista Dignus, sinais do olho seco, síndrome do olho seco, sintomas olho seco, tratamento olho seco

Marcar Consulta

Necessita de algum esclarecimento ou de agendar uma consulta de oftalmologia?

Utilize um dos contactos disponibilizados.