Revista Oftalpro – Olho Seco – Importância atual e a IPL como tratamento inovador e promissor

Venho partilhar consigo o artigo publicado na revista Oftalpro nº 54.

Estima-se que mais de 20% da população portuguesa sofra nos dias de hoje da síndrome do Olho Seco, um problema de saúde que pode reduzir significativamente a qualidade de vida. Quem sofre desta doença experimenta frequentemente desafios no dia-a-dia tais como ao utilizar um aparelho digital ou a conduzir o carro. No Inverno a sua manifestação agrava-se, uma vez que estamos perante vários fatores etiológicos, o vento no exterior, o uso de aparelhos de aquecimento, uso da máscara de proteção entre outros.

Embora os casos comuns de olho seco sejam ligeiramente incómodos, o olho seco crónico é uma condição que se deve ter nos dias de hoje especial atenção.

Em meados de 2018 decidimos criar o primeiro Centro Integrado de Olho Seco (CIOS) no Porto, após identificarmos que esta patologia viria a ser uma das mais prevalentes no campo da oftalmologia. Com o CIOS procuramos colmatar as carências no diagnóstico e tratamento do Olho Seco e Disfunção das Glândulas de Meibómio, onde recorremos às últimas inovações tecnológicas e a tratamentos emergentes tais como o Plasma Rico em Plaquetas (Endoret) e o Thermaeye – Luz Intensa Pulsada (IPL).

Assim, neste artigo optamos por abordar a importância atual do Olho Seco e divulgar um dos métodos de tratamento mais inovador e promissor – a Luz Intensa Pulsada (ou IPL).

O que é o Olho Seco?

O olho seco é uma doença multifatorial da superfície ocular caracterizada pela lubrificação inadequada. Ou seja, o olho depende da lágrima para formar uma película que recobre o globo ocular e forneça humidade e lubrificação constante para preservar a acuidade visual e conforto ocular através da sua composição e combinação de:

  • Água, para manter a humidade;
  • Gordura, para lubrificação e evitar a evaporação;
  • Muco, para espalhar as lágrimas pela superfície do olho;
  • Anticorpos e determinadas proteínas que promovem a resistência à infeção;

Estes componentes são expelidos pelas glândulas de meibómio e quando há um desequilíbrio ou deficiência no sistema lacrimal, ou quando as lágrimas evaporam mais rápido do que o normal, o paciente vai certamente manifestar alguns dos sinais ou sintomas do Olho Seco, tais como:

  • Ardência;
  • Muco viscoso no interior ou ao redor dos olhos;
  • Hipersensibilidade à Luz;
  • Vermelhidão;
  • Sensação de corpo estranho;
  • Dificuldade em usar lentes de contacto;
  • Dificuldade para conduzir um veículo à noite;
  • Visão turva ou fadiga ocular;

Tipos de Olho Seco

Basicamente, existem dois tipos de olho seco que podem coexistir.

Olho seco por deficiência aquosa em que as glândulas lacrimais não produzem quantidade suficiente da camada aquosa, resultando numa baixa produção de lágrimas.

Olho seco evaporativo, situação em que as glândulas meibomianas não produzem de forma satisfatória a camada lipídica de lágrimas, resultando em lágrimas que evaporam demasiado rápida.

 

Causas e Fatores de Risco do Olho Seco

No âmbito da Oftalmologia é muito frequente a presença de olho seco em doentes a aplicar colírios para tratamento do Glaucoma e após cirurgias oculares tais como a cirurgia refrativa (LASIK) e a cirurgia da catarata;

Contudo, as causas e fatores de risco de olho seco, são variadas e estão muitas vezes relacionadas com aspetos que vão para além da oftalmologia, tais como:

  • Fatores ambientais, tais como: o vento, baixa humidade, ar condicionado, exposição solar, fumo, fumos químicos ou calor;
  • Alterações hormonais na mulher, como por exemplo, a gravidez, menopausa, terapia de reposição hormonal (TSH), ou pílulas anticoncecionais;
  • Doenças de pele das pálpebras ou áreas peri-oculares
  • Alergias;
  • Perturbações auto-imunes, tais como Síndrome de Sjögren, o Lúpus ou a Artrite Reumatoide;
  • Inflamação crónica do olho;
  • Pestanejar pouco ou uma condição chamada ceratite de exposição, em que as pálpebras não se fecham completamente durante o sono;
  • Vários medicamentos, tais como anti-histamínicos, descongestionantes nasais, tranquilizantes, medicamentos para a tensão arterial, medicamentos para a doença de Parkinson, e antidepressivos;
  • Ingestão insuficiente de vitaminas;
  • Uso prolongado e/ou inadequado das lentes de contacto;
  • Por fim, a irritação ocular associada ao uso da máscara é frequente nos dias de hoje e, mais exuberante, em pessoas com antecedentes de inflamação ocular e/ou de olho seco. Durante a utilização da máscara, o aumento do fluxo de ar em direção aos olhos durante a respiração, acelera a evaporação contínua do filme lacrimal e tem-se revelado também um fator etiológico complementar muito importante.

 

Quais os tratamentos existentes para o olho seco?

Na maioria dos pacientes com sintomas oculares ligeiros de olho seco, é suficiente usar regularmente lágrimas artificiais como, por exemplo, o ácido hialurónico, sem conservantes ou fosfatos. Quando os sintomas são persistentes e graves, há outras opções como o uso de anti-inflamatórios não esteroides, corticoides ou a ciclosporina.

Alguns tratamentos concentram-se em inverter ou gerir uma condição ou fator que está na origem do olho seco. Outros tratamentos podem melhorar a qualidade das lágrimas ou impedir que as lágrimas escoem rapidamente.

A Luz Pulsada (IPL) e o Plasma Rico em Plaquetas (Endoret) são alguns dos tratamentos emergentes usados no olho seco predominante evaporativo e que estão disponíveis no nosso Centro Integrado do Olho Seco (CIOS).

 

O que é a IPL, e porque é eficiente no tratamento do olho seco?

Os pacientes que sofrem da síndrome de Olho Seco devido a problemas de evaporação da lágrima associados ou não à deficiência da sua produção podem apresentar olho seco moderado a grave. A IPL ou luz intensa pulsada é uma alternativa para aliviar de forma eficaz estes pacientes quando a sua situação clínica não melhora com os métodos convencionais, tais como lágrimas artificiais ou colírios anti-inflamatórios.

O tratamento com luz pulsada de alta frequência (IPL) foi desenvolvido para aliviar o Olho Seco predominantemente evaporativo.

Quando tal ocorre, há uma sensação de ardência, visão turva e vermelhidão dos olhos que pode levar a uma acuidade visual deficiente ou mesmo o estabelecimento de cicatrizes oculares.

Este tratamento consiste em aplicar de flashes de luz, com uma frequência e intensidade especificas nas pálpebras inferiores e na região temporal, que permite estimular a circulação sanguínea desta área e a ativação das terminações nervosas em torno das glândulas meibomianas, com o objetivo de estimular a produção de gordura que a lágrima necessita. Por outro lado, tem também propriedades analgésicas e anti-inflamatórias comprovadas

Deste modo é possível melhorar a qualidade da lágrima, a lubrificação da superfície ocular, evitando a rápida evaporação do filme lacrimal e melhorar o suprimento de nutrientes necessários permitindo manter uma córnea saudável.

O resultado ideal é geralmente obtido após três sessões de tratamento, embora, após o primeiro tratamento, o doente já se perceba de uma melhoria gradual, mas transitória. Aqueles que são mais severamente afetados podem vir a necessitar de tratamentos de manutenção.

O equipamento de última geração utilizado no nosso Centro Integrado de Olho Seco é o Thermaeye, desenhado e especialmente produzido para o tratamento do Olho Seco com características e funcionalidades únicas, que permite aplicar a Luz Intensa Pulsada em todos os tipos de pele.

 

Qual o tratamento mais adequado?

Nem todos os casos provocam os mesmos sintomas, pelo que a recomendação é realizar um diagnóstico rigoroso e fornecer um plano de tratamento adequado.

No CIOS não só utilizamos a Thermaeye (IPL) como fornecemos um serviço 360º, que vai além da intervenção oftalmológica no âmbito do diagnóstico e tratamento. Disponibilizamos também outras especialidades das áreas identificadas e relacionadas com os fatores de olho seco, tais como: dermatologia, psicologia e nutrição.

No entanto, perante o desconforto de Olho Seco existem algumas medidas preventivas que sugerimos e que podem ser realizadas em casa:

  • Aplicar uma compressa quente nos olhos. Isto pode ajudar a libertar gordura nas glândulas palpebrais, melhorando a qualidade das lágrimas;
  • Proteger os olhos do sol e do vento com óculos apropriados;
  • Manter a hidratação corporal e beber muita água ao longo do dia;
  • Evitar o álcool e reduzir o consumo de outras substâncias que possam causar desidratação;
  • Evitar fumar e a exposição ao fumo do cigarro;
  • Descansar os olhos – especialmente quando se está exposto demasiado tempo ao monitor de computador. Deve fazer pausas de acordo com a regra 20-20-20 (parar a cada 20 minutos durante 20 segundos e olhar para uma distância de 20 pés, ou seja, cerca de seis metros);
  • Colocar o ecrã do computador a 50-55 cm, ao nível dos olhos ou ligeiramente abaixo;
  • Limpar com frequência a tela do computador ou tablet;
  • Trabalhar numa sala bem iluminada;
  • Usar um humidificador para evitar que o ar fique demasiado seco.
  • Adicionar um filtro de ar de alta qualidade ao local onde habitamos para remover alergénios e irritantes do ar.
  • Fazer sempre que possível uma pausa ao uso excessivo das lentes de contacto.

Conclusão

A causa do olho seco é determinante para o diagnóstico e tratamento adequado do paciente.

Mas, independentemente da causa, muitos tratamentos podem ajudar, não havendo uma solução perfeita para todos os tipos de Olho Seco. O tratamento é sempre uma combinação de várias alternativas e medidas de prevenção que deverão de coexistir para se obter o melhor resultado possível.

Assim sendo, é crucial alertar ainda os grupos de risco para este problema, nomeadamente os idosos, evitar o uso prolongado dos computadores e a permanência em ambientes adversos.

Download do Artigo – http://ow.ly/TcOr50HkaQ3

 

Referências:

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Stevenson W, Chauhan S, Dana R. Dry eye disease: an immune-mediated ocular surface disorder. Arch Ophthalmol. 2012;130 (1):90–100.

Vergés C, Salgado-Borges J, March de Ribot F. Prospective Evaluation of a New Intense Pulsed Light, Thermaeye Plus, in the Treatment of Dry Eye Disease Due to Meibomian Gland Dysfunction. J Optom. 2021 Apr- Jun;14(2):103-113.

Vérges C, March de Ribot M., Salgado-Borges J. Ribas V. Intensed pulsed light in the treatmentof dry eye disease ans ocular rosaces. Ophth Times Eur., 2021; 17: 24.27.

Yokoi N, Georgiev GA. Tera-film-oriented diagnosis for dry eye. Jpn J Ophthalmol. 2019 Mar; 63(2):127-136.

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