Combater o desperdício na Saúde em Portugal é essencial

Na sequência do artigo anterior, intitulado Reflexão sobre as dificuldades e oportunidades na Saúde em Portugal, deixo hoje para reflexão de todos, gostaria apenas de referir um exemplo de prioridade assistencial no âmbito da oftalmologia, na minha opinião mal definido, e que obviamente poderá ser transposto para qualquer outra área no âmbito do Serviço Nacional da Saúde (SNS).

Em nenhum país europeu, excepto Portugal, se realizam cirurgias refractivas laser nos respectivos serviços nacionais de saúde. Apenas será aceitável, como na França, Alemanha ou Inglaterra, o recurso a essa tecnologia com a finalidade de ensino ou investigação e apenas em instituições com peculiaridades muito específicas.

Não é assim admissível a utilização de muitas centenas de milhares de euros em recursos técnicos e humanos na cirurgia refractiva laser, no âmbito do SNS, em detrimento das prioridades assistenciais da Oftalmologia que são a Retinopatia Diabética, o Glaucoma, a Prevenção da Ambliopia nas Crianças e a DMI, mas nunca a resolução com laser dos erros refractivos, quase sempre corrigíveis com óculos ou lentes de contacto.

Cada vez mais teremos não só que combater e evitar o desperdício mas também controlar de forma correcta os gastos aproveitando de forma adequada os recursos humanos e técnicos existentes. Será também necessário simplificar a orgânica e as exigências de ordem administrativa por forma a desburocratizar e tornar os serviços mais ágeis e eficazes.

Por fim, ao contrário de outras áreas de actividade, infelizmente à Saúde praticada no SNS não faltam doentes/clientes.

Se cada vez mais é preocupação do Estado gastar o menos possível com a Saúde, se se conseguir manter a população relativamente satisfeita com os cuidados prestados os governantes obterão uma importante base de apoio, fundamental para se manterem ou em alternativa chegarem ao poder.

No que diz respeito aos Serviços de Saúde Privados para eles também não se prevêem tempos fáceis se se tiver em conta as orientações que a chamada troika deixou em Portugal – e cujos efeitos ainda se fazem reflectir na nossa sociedade de forma transversal.

Adivinha-se a curto ou médio prazo o fim efectivo ou a alteração de forma radical do financiamento dos cuidados prestados aos utentes da ADSE e de outros subsistemas, que são actualmente um pilar importante de sustentação das unidades de saúde privadas.

O papel dos seguros de saúde

Também os seguros de saúde têm que se tornar mais apelativos e competitivos, assistindo-se nos dias de hoje, devido às dificuldades económicas gerais, à dificuldade que muitos tomadores de seguros de saúde têm em manter activos os seguros pré-existentes.

Ainda relativamente aos seguros de saúde, julgo ser importante uma revisão da legislação/política actual – neste momento praticamente só cobrem indivíduos que não dão despesa; quando chegam a idade em que há maior risco de problemas de saúde (pelos 60-65 anos) em muitos deles o seguro caduca; e se der despesa “exagerada” (por exemplo, duas ou mais cirurgias consecutivas), mesmo que em novo, provavelmente o seguro poderá ser cancelado.

Por outro lado, todos os intervenientes da área da saúde no nosso país, desde os governantes e gestores aos prestadores dos cuidados de saúde deverão estar atentos, a curto/médio prazo, para a chegada e instalação entre nós de grandes grupos estrangeiros, nomeadamente brasileiros e espanhóis, com larga experiência no sector.

Todos deveremos estar preparados para os eventuais perigos mas também para as oportunidades óbvias decorrentes de tal acontecimento.

Os Serviços de Saúde Privados poderão ainda beneficiar claramente com a ineficácia do SNS e, no que diz respeito à contratação dos profissionais, poderão contar com a desmotivação e falta de oportunidades nos Serviços de Saúde Estatais para captarem para as suas fileiras técnicos de saúde experientes e competentes.

No entanto, por forma a manter as margens de lucro desejadas os gestores dos hospitais privados serão tentados a manter os profissionais ao mais baixo custo possível, para poderem ser competitivos na oferta, tornando-se nalguns casos nos já designados “Supermercados da Saúde”.

Contudo, julgo que os Hospitais e Clínicas Privadas terão agora uma óptima oportunidade se conseguirem ser reconhecidos pela diferenciação e possuírem nos seus quadros médicos prestadores de referência, em áreas específicas tais como acontece com determinados tipos de cirurgia, exames ou tratamentos mais diferenciados.

Isto aliás já sucede pontualmente, tanto em relação a alguns hospitais como a médicos com actividade autónoma. Será este, no meu ponto de vista, um excelente cartão de visita para que, uma unidade privada de cuidados de saúde com estas características seja procurada, identificada e escolhida como “Unidade de Referência” pelos doentes.

Em conclusão, torna-se imprescindível que todos os intervenientes na área da saúde estejam atentos para as dificuldades mas também para as oportunidades com que se deparam e que serão o motor, estímulo e motivação para o desempenho da profissão que abraçaram.

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